LAURA VINCI, FLUXOS
Áudio transcrição e tradução do texto curatorial
FLUXOS
As esculturas e instalações de Laura Vinci são pautadas em transformações, fluxos constantes, como as dessas maçãs depositadas sobre uma mesa – maçãs colhidas de árvores que um dia foram sementes e que, agora, deixadas em repouso, terão suas peles lentamente ulceradas pela oxidação, perderão o viço, e seus corpos vermelhos com veios esverdeados serão recobertos por tonalidades escuras, rumando em direção ao preto, enquanto seus perfumes irão se transformar no aroma espesso, quase insuportável, das coisas podres.
As peças de Laura Vinci, coerentes com a flautista que foi durante sua juventude e com seu fascínio pela natureza movente e plástica das palavras, não se prendem a este ou aquele material exclusivo: variam do metal ao ar, de coisas duras e opacas a mais ou menos transparentes; da areia, pedra pulverizada, ao vidro, por sua vez feito de areia, chegando até ao vapor d’água circulando por dutos ou que escapa de espécies de cornetas afiladas, pontiagudas e brilhantes.
Composta por esculturas de pedra, tubulações de vidro, cabos e estruturas metálicas, acopladas em motores, sistemas mecânicos baseados em leis e princípios físico-químicos diversos, a obra de Laura Vinci espraia-se em direções variadas. Como definir essa obra que parece abordar a impermanência, sendo ela própria impermanente, inimiga da repetição?
Esta exposição, composta por várias peças inéditas, é uma continuidade da pesquisa poética de Laura Vinci sobre mudanças de estado das matérias, sobre a fugacidade da presença de tudo o que há, sobre a energia que as habita, a regularidade de sua respiração, sua transpiração dissolvendo-se nos ambientes encadeados projetados por Paulo Mendes da Rocha. Ao ocupar o MuBE, as peças de Laura Vinci aderem à arquitetura de pele nua do museu, exploram suas características, ressaltando que mesmo ele, com seu corpo de concreto, com suas salas que, vistas da rua, parecem pequenas placas tectônicas acristaladas, com a longa e larga laje flutuando como pedra com vocação de nuvem, foi concebido para dotar o concreto de uma inesperada leveza.
Agnaldo Farias
FAUUSP
FLOWS
Laura Vinci's sculptures and installations are based on transformations, constant flows, like those of these apples placed on a table – apples picked from trees that were once seeds and that, now left to rest, will have their skins slowly ulcerated by oxidation, will lose their vitality, and their red bodies with greenish veins will be covered by dark tones, heading towards black, while their perfumes will transform into the thick, almost unbearable aroma of rotten things.
Laura Vinci's pieces, consistent with the flutist she was during her youth and with her fascination with the moving and plastic nature of words, are not limited to this or that exclusive material: they range from metal to air, from hard and opaque things to more or less transparent ones; from sand, pulverized stone, to glass, in turn made of sand, and even to water vapor circulating through ducts or escaping from a kind of sharp, pointed and shiny trumpet.
Composed of stone sculptures, glass pipes, cables and metal structures, coupled to motors, mechanical systems based on various physical and chemical laws and principles, Laura Vinci's work spreads out in various directions. How can we define this work that seems to address impermanence, being itself impermanent, the enemy of repetition?
This exhibition, composed of several new pieces, is a continuation of Laura Vinci's poetic research on the changing state of matter, on the fleeting presence of everything that exists, on the energy that inhabits them, the regularity of their breathing, their perspiration dissolving in the interconnected environments designed by Paulo Mendes da Rocha. By occupying MuBE, Laura Vinci's pieces adhere to the museum's bare-skinned architecture, exploring its characteristics, emphasizing that even the museum, with its concrete body, with its rooms that, seen from the street, look like small crystal tectonic plates, with the long and wide slab floating like a stone with the vocation of a cloud, was designed to endow concrete with an unexpected lightness.
Agnaldo Farias
FAUUSP